Bactérias Que Te Engordam

Bactérias Que Te Engordam

 Estudo publicado em revista científica norte-americana, Proceedings of the National Academy of Sciences, revelou benefícios em preservar antigos hábitos alimentares para melhorar a biodiversidade da microbiota intestinal, isto é, a variedade dos microrganismos que formam a flora intestinal, após compararem a microbiota intestinal de crianças com dieta tipicamente urbana com crianças que vivem em zona rural.

Segundo os pesquisadores, ainda não está compreendido como diferentes ambientes e hábitos alimentares da vida moderna podem afetar a ecologia microbiana do intestino. Mas eles afirmam que os hábitos alimentares são considerados um dos principais fatores que contribuem para a diversidade da microbiota intestinal.

As profundas mudanças na dieta e estilo de vida ocorridas nas últimas décadas favoreceram o surgimento de patógenos, isto é, microrganismos maléficos especializados em colonizar hospedeiros humanos. Em consequência disso, surgiu uma onda de doenças humanas emergentes, como alergias, doenças auto-imunes e doenças inflamatórias intestinais.

Assim, o objetivo dos pesquisadores foi avaliar o impacto de variáveis ambientais sobre a microbiota intestinal entre crianças da mesma idade, porém vivendo em ambientes diferentes (urbano versus rural).

Para o desenvolvimento do estudo foram incluídas 15 crianças saudáveis que vivem na vila rural de Boulpon, Burkina Faso (país africano), e 15 crianças saudáveis da área urbana de Florença, Itália. Todas as crianças tinham entre 1 a 6 anos de idade e não faziam uso de antibióticos ou probióticos nos últimos seis meses ao início do estudo. Foram coletados dados detalhados sobre estilo de vida e hábitos alimentares obtidos diretamente pelos pais das crianças. A quantificação e caracterização da microbiota intestinal foram realizadas através de técnicas de biologia molecular a partir das fezes. Além disso, foi feita a determinação dos ácidos graxos de cadeia curta (AGCC).

A dieta das crianças da comunidade rural apresentou baixa quantidade de proteína animal e gorduras, e altos níveis de amido e fibras. Todos os recursos alimentares eram produzidos localmente, cultivadas e colhidas nas proximidades da aldeia. A dieta dessas crianças era constituída principalmente de cereais, leguminosas, produtos hortícolas. Estas crianças foram amamentadas até os dois anos de idade.

Diferentemente, as crianças da área urbana foram amamentadas até 1 ano de idade. Estas crianças consumiam uma dieta tipicamente ocidental, rica em proteínas animais, açúcar, amido, gordura e pobre em fibras. Foram encontradas diferenças significativas na microbiota intestinal entre os dois grupos. Observou-se maior quantidade de ácidos graxos de cadeia curta nas crianças africanas do que nas crianças da área urbana. Esses ácidos graxos são produzidos por bactérias anaeróbias por meio da fermentação de carboidratos e proteínas ingeridos pela dieta, como as fibras e são capazes de aumentar o volume fecal e reduzir o tempo de trânsito intestinal. Portanto, os AGCC estão associados com a redução do risco de desenvolver algumas doenças, como a síndrome do cólon irritável, doença inflamatória intestinal, doença cardiovascular e câncer.

Outro resultado importante foi a presença de bactérias da família Enterobacteriaceae (Shigella eEscherichia coli), que são causadoras de doenças, significativamente menores nas crianças da aldeia do que em crianças italianas. As crianças da aldeia apresentaram maior quantidade de Bacteroidetes, especialmente de bactérias do gênero Prevotella e Xylanibacter, conhecidas por conter um conjunto de genes que hidrolisam celulose e xilana, ambas consideradas fibras insolúveis. Essas bactérias apresentaram-se completamente ausentes nas crianças da área urbana italiana. Além disso, as crianças da aldeia apresentaram menor quantidade de Firmicutes, um filo de bactérias relacionadas à obesidade, sendo encontrada em grande quantidade nas crianças italianas.

Os pesquisadores comentaram que o perfil de bactérias encontradas nas crianças da área urbana (menor Bacteriodetes e maior Firmicutes) é, provavelmente, provocado pela dieta rica em calorias e pobre em fibras, e que podem predispor à obesidade e cânceres no futuro.

“Nossos resultados sugerem que a dieta tem papel dominante para a caraterização da microbiota intestinal quando comparada com outras variáveis, como etnia, saneamento, higiene, geografia e clima”, comentam os pesquisadores. “O conhecimento da microbiota intestinal das crianças da aldeia africana prova a importância do tipo e preservação de sua biodiversidade, especialmente por ser uma região onde os efeitos da globalização na dieta foram menos acentuados. Estes resultados representam um foco atraente para estudos que visam elucidar o papel da microbiota intestinal no equilíbrio entre saúde e doença”, concluem.

 

Por: Nutritotal